terça-feira, 3 de novembro de 2009

O museu das palavras

Construímos nosso museu de palavras. Temos expostas a palavra amor dita por Hitler, a palavra morte dita por Gandhi. Todas com suas molduras em seus tons, volumes, as cores dos seus sons, as suas texturas, os seus timbres, os cheiros de seus sentidos, as formas das suas essências. Tudo preservado em seus teores originais.

O cheiro da palavra ódio dita por Madre Tereza de Calcutá, o sabor da palavra melancolia dita por Chaplin, a cor da palavra luz dita por Mussolini, a geometria da palavra alegria dita por mim, a palavra gugu-dadá dita pelo General Garrastazu Médice, a palavra heroísmo dita pelo cabo Anselmo, a palavra merda dita pelo Papa João Paulo II, a palavra solidão não dita por todos, calada no nó na garganta.

Nossa sede têm um metro e setenta e oito, pesa 95 quilos, tem olhos azuis e cabelos rastafári. Há salas abertas à visitação no peito e crânio, mas há salas em outros cantos também, alguns não muito ilustres.

Entrem, fiquem à vontade.

Quando estiverem dentro se beijem, se abracem, se amem, se odeiem, esmurrem, se matem. Mas principalmente se beijem, se abracem, e se acariciem muito com a maciez da textura dos olhos cândidos e meigos, futuramente traiçoeiros, infelizmente – ou não, também.

Mas pulsem, pulsem, pulsem muito, pulsem sempre.

Armando Pompermaier

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